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Era uma vez um grande rebanho de cabritas muito pequenas que viviam todas juntas num curral. Eram tão pequeninas que não sabiam ainda o que fazer para ir buscar erva para comer, tendo a sua mãe que sair para trazê-la. Sempre que esta saía, avisava as cabritas para não abrirem a porta a ninguém, pois o lobo podia aparecer e comê-las. E para que soubessem que era a mãe que as chamava, passava a patita branca por baixo da porta e elas, ao vê-la, reconheciam-na e abriam. Quando voltava do campo, para pedir que lhe abrissem a porta cantava:
Abri, abri, cabritas,
que vos trago ervitas.
Abri, abri, abri!
Mal passava a patita por baixo da porta, logo as cabritas diziam: "Uma patita branca, é a nossa mamã."
O lobo, que tinha grande vontade de comê-las, não deixava de as espiar até ver que a cabra mais velha se ia embora, pondo-se então a cantar:
Abri, abri, cabrotas,
que vos trago ervotas.
Abri, abri, abri!
As cabritas diziam-lhe então: "Mostra-nos a pata!" O lobo passava sua pata negra por baixo da porta e as cabritas respondiam de seguida: "Uma patola negra, é o lobo feroz! Não abrimos, não abrimos, que é lobo feroz!"
Um belo dia teve o lobo uma ideia.
Havia uma mulher que tinha a roupa estendida; o lobo roubou-lhe um lençol, recortou um pedacito de tecido de um lado e com um fio atou-o à pata de tal maneira que esta parecia branca. Foi a casa das cabritas e cantou então, mudando o tom de voz:
Abri, abri, cabritas,
que vos trago ervitas.
Abri, abri, abri!
As cabritas, que não reconheceram a voz do lobo, exclamaram: "Mostra-nos a pata!"
O lobo passou a pata coberta com o lençol por baixo da porta e as cabritas, ao vê-la assim tão branca, disseram, crendo tratar-se da sua mãe: "Uma patita branca, é a nossa mamã." E, sem pensarem no que estavam a fazer, abriram a porta. O lobo irrompeu com grande violência e desatou a dar-lhes dentadas, uma aqui, outra acolá, até que as comeu a todas, excepto uma muito pequenita, que era coxa e se escondeu atrás do armário, para assim não ser encontrada.
Depois de as ter comido a todas, o lobo, farto e com uma barriga enorme, tão grande que quase não podia andar, fugiu. Quando a mãe das cabritas voltou, encontrou o curral aberto, sem nenhuma das suas filhas no interior e logo percebeu o que tinha sucedido. Entrou em casa e, enquanto chorava, não parava de gritar: "As minhas filhas, as minhas filhas!"
A cabrita coxita saiu do armário e explicou-lhe o que havia sucedido. Quando soube que o lobo tinha comido as suas filhas, agarrou num grande cutelo e foi à procura dele. Encontrou-o deitado ao sol, sem sequer poder mexer-se, de tão cheia que estava a barriga com as cabritas que tinha comido. Disse-lhe a mãe das cabritas: "Queres andar à pancada comigo?", ao que ele respondeu: "Pois seja."
O lobo levantou-se, cambaleante, e a cabra fitou-o olhos nos olhos. Golpe aqui, golpe acolá, lá conseguiu a cabra com um dos golpes de cutelo abrir a barriga do lobo. Foi então que do interior surgiram as cabritas que tinha comido, a saltar e a dançar e felizes de ver a sua mãe. O lobo lá ficou, com a barriga vazia e as tripas de fora.
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