A minha mãe acordou tarde e acordou tardíssimo o meu pai que se ia esquecendo de me acordar.
É sexta-feira e a manhã começa do avesso. Choveu durante toda a noite e cá em casa temos cara de tempestade. Só o Buffalo Bill e a avó Luísa se mantêm muito descansados a dormir alegremente.
(...)
Saímos. Vou faltar à primeira hora, bolas! Primeiro deixámos a minha mãe no emprego, depois uma volta enorme até descobrir num descampado a cara desmaiada da "Careca"...
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Atravessei o lodo e recolhi-me debaixo de um tapume. Contornei o Pavilhão 2 e pus-me à escuta. Havia um som estranho, mais estranho que a água a suicidar-se vinda do céu. Alguém chorava. Era um som inconfundível.
Alexandre Honrado, "Uma Chuvada na Careca" (adaptado)
Ambar, Porto, 2ª edição, Agosto de 2000